sexta-feira, 16 de julho de 2010

A LATINHA DE LEITE


Um fato real.
  
Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes da favela, um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas da rua que beira o morro.

Estavam famintos:

_'vai trabalhar e não amole', ouvia-se detrás da porta;
_'aqui não há nada moleque...', dizia outro...

As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças...
Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes
_'Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... Coitadinhos!' E voltou com uma latinha de leite.

Que festa! Ambos se sentaram na calçada.
O menorzinho disse para o de dez anos
_'você é mais velho, tome primeiro...'

E olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua.
Eu, como uma tola, contemplava a cena...
Se vocês vissem o mais velho olhando de lado para o pequenino!
Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite.
Depois, estendendo a lata, diz ao irmão
_'Agora é sua vez. Só um pouco.'

E o irmãozinho, dando um grande gole exclama:
_'como está gostoso!'
_'Agora eu', diz o mais velho.

E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada.
_'Agora você', 'Agora eu', 'Agora você', 'Agora eu'...

E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelos encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo... Ele sozinho.

Esse 'agora você', 'agora eu' encheram-me os olhos de lágrimas...
E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário.
O mais velho começou a cantar, a sambar, a jogar futebol com a lata de leite.
Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria.
Pulava com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias sem dar-lhes maior importância.


Daquele moleque nós podemos aprender a grande lição, 'quem dá é mais feliz do que quem recebe.'

É assim que nós temos de amar.

Sacrificando-nos com tal naturalidade, com tal elegância, com tal discrição, que os outros nem sequer possam agradecer-nos o serviço que nós lhe prestamos."

quarta-feira, 7 de julho de 2010

"EU TE AMO" NÃO DIZ TUDO!


O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas.

Mas ouvir que é amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras, precisa de lealdade, sinceridade, fidelidade...

Sentir-se amado, é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou há dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão....

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.

Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
quem não levanta a voz, mas fala;
quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: EU TE AMO NÃO DIZ TUDO!
(por Arnaldo Jabor)